quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Convento de São Francisco, que futuro?




Em Maio de 2004 a Casa Pia desistiu de um colégio interno em Setúbal onde já investiu 7,5 milhões de euros por considerar que os lares construídos estão afastados do tecido social e urbano e não oferecem condições pedagógicas e de segurança.

A provedora da Casa Pia na época, Catalina Pestana, alega que o projecto do novo colégio no Convento de São Francisco foi concebido para um elevado número de alunos, contrariando orientações técnicas que apontam para «estruturas com poucas crianças e devidamente integradas no tecido social e urbano».

«Tudo o que é massificação limita a possibilidade de um acompanhamento individualizado e personalizado, fundamental para o desenvolvimento de miúdos sem raízes familiares que não podemos deixar diluir no anonimato», justificou a provedora.

Por outro lado, Catalina Pestana salientou o facto dos «cinco lares do colégio, com capacidade para 105 internos, terem sido construídos junto a uma ravina, o que poderia dar origem a problemas graves de segurança, num espaço frequentado por centenas de crianças».

O projecto do colégio interno de Setúbal, na colina do Castelo de S. Filipe, começou a ganhar forma a 18 de Outubro de 1996, quando o então primeiro-ministro, António Guterres, assinou um protocolo para o realojamento de 61 famílias (170 pessoas) que viviam em condições miseráveis no Convento de São Francisco, no âmbito do Programa Especial de Realojamento nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto.

O protocolo previa também a cedência do Convento de São Francisco, e dos terrenos adjacentes, à Casa Pia de Lisboa, que deveria proceder à recuperação do imóvel e à construção de outras infra-estruturas necessárias para o futuro colégio interno.

Para além dos cinco edifícios para lares/dormitórios já construídos, estava também prevista uma escola pré-primária, um edifício para ensino técnico-profissional, um polidesportivo coberto, campo de jogos, piscina coberta e zonas verdes e de lazer.

O projecto, elaborado pelo arquitecto Paz Rafael, previa ainda a requalificação/recuperação de uma capela, um aqueduto e uma nora, situados nos terrenos cedidos à Casa Pia de Lisboa, obras que nunca foram realizadas.

A administração da Casa Pia de Lisboa, liderada por Catalina Pestana, acabou, por abandonar a construção do colégio, sendo que as infra-estruturas edificadas (cinco lares) deverão reverter para outros equipamentos sociais.

Nesse sentido, o Instituto de Solidariedade e Segurança Social, Câmara Municipal de Setúbal e a governadora civil do distrito estão já a equacionar soluções alternativas para o aproveitamento dos equipamentos noutras valências de âmbito social.

Assim concluísse que houve um autêntico esbanjamento de dinheiros públicos e que foi feito mais um atentado a serra da Arrábida, o enquadramento paisagístico do projecto é completamente absurdo.


Cronologia


1410 - construção do convento, não se conservando vestígios da época da sua fundação. Pertencia a Religiosos Observantes da Província dos Algarves tendo sido, provavelmente, a primeira ordem estabelecida em Setúbal. Deveu-se à protecção de D. Maria Anes Escolaris;
1619 - aí se hospedou Filipe III de Castela quando visitou Setúbal;
séc. 17 / 18 - o convento encontra-se muito degradado;
1747 / 1749 - executam-se trabalhos de reedificação;
1755 - é severamente atingido pelo terramoto;
1834 - os frades são expulsos com a extinção das Ordens Religiosas e o edificio incorporado nos bens próprios nacionais, pertencendo ao governo que o vendeu por arrematação a Joaquim O'Neil;
1840 - as ruínas pertenciam à família Torlades O'Neil; João Torlades O'Neil mandou demolir a maior parte do mosteiro;
séc. 19 - são feitas obras no convento;
1874 - Francisco José Pereira compra o mosteiro a João O'Neil e reconstrói-o;
1875 - o mosteiro é comprado por padres da Companhia de Jesus que concluem as obras reedificando a igreja e adaptando o edifício para o estabelecimento de ensino; a igreja estabelece-se na antiga casa do Capítulo;
1876 - inauguração da igreja e do colégio a 4 de Outubro;
1878 - estabeleceu-se uma aula gratuita de instrução primária;
séc. 20 - é adaptado a quartel, recebendo o Batalhão de Infantaria 11; com a saída dos militares fica devoluto;

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