domingo, 23 de agosto de 2009

O mármore da Arrábida






Sobre este maravilhoso mármore e seu uso em construções na nossa cidade, tenho manifestado o meu desacordo, quanto ao emprego do mesmo na construção do cruzeiro implantado no Largo de Jesus, frente ao Mosteiro, conforme de uma maneira geral, este é considerado como tendo sido feito com pedra mármore do nosso monte Barbárico.

Embora não seja petrólogo tenho assente esta ideia, em declarações escritas do petrólogo setubalense Luís Gonzaga do Nascimento, que numa separata do jornal A Indústria de 1946, diz o seguinte:” O artístico cruzeiro de Jesus é de mármore da Serra do Viso (mármore muito semelhante ao da Arrábida, mas mais difícil de polir do que este), e não de mármore da Arrábida como erradamente se tem dito e escrito.” Mais adiante esclarece melhor algo sobre os seus estudos.

“ Tenho na minha colecção de petrologia local, várias amostras de mármore da Arrábida e mármore da Serra do Viso. O mármore da Serra da Arrábida é mais aglutinado do que o da Serra do Viso. Se bem que grandemente semelhantes, no mármore da Arrábida predominam as manchas negras e arroxeadas. No mármore da Serra do Viso predominam as manchas esbranquiçadas barrentas.”

Para ainda esclarecer melhor estas dúvidas, tenho em meu poder a revista Panorama de 1842, que confirma tudo isto que tenho escrito sobre o Cruzeiro e Mosteiro de Jesus, construído também do mesmo mármore, e que passo igualmente a transcrever:

“ Merece porém especial notícia a pedra, que nesta construção foi empregada, por isso mesmo que não é comum o uso dela, e dá ao corpo da obra uma aparência de certo matiz, a que os olhos andam pouco afeitos; é o grés vermelho antigo (older red conglomerate dos ingleses), que foi extraído da Serra de S. Filipe e Viso, vizinha `vila de Setúbal; desta pedra nos consta que havia obras no hospital de S. José, desta corte.”

Realmente não se compreendia, que se fosse buscar à Serra da Arrábida o seu mármore, quando o tínhamos bem parecido à nossa porta, ou seja, o filão de pedra do Viso até à Serra de S. Filipe, que foi engolido possivelmente pelas movimentações terrestres de há algumas centenas de anos após, ou por ser um filão pouco extenso.

Julgo que confirmei o que tenho escrito sobre este assunto, que alguns ilustres e esclarecidos setubalenses na área histórica, tem posto em dúvida.

Por João Francisco Envia no jornal "O Setubalense" de 10-08-2009

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