quarta-feira, 29 de julho de 2009

Bairro Troino






O bairro de Troino é um dos bairros mais castiços da cidade de Setúbal e foi provavelmente nele que nasceu a pronúncia denominada "Charroca" (acentuação nos RRs) . Este bairro era habitado principalmente por pescadores provenientes do Algarve.

Os pescadores de Troino, eles caracterizam-se pelo seu porte altivo, desdenhoso e um pouco desordeiros. Vestiam camisolas fortes, barretes grossos, calças de serrubeco, cinta preta, grandes botas altas de cabedal até cima dos joelhos e cujas solas são de madeira, grandes meias de lã dentro delas, e no dia de vendaval usavam um fato oleado e um chapéu de nome "sueste", mostrando então como se vestiam e se posicionavam os homens do mar. Quanto às mulheres, trajavam saias compridas e rodadas, blusas iguais ou cor diferente, um avental que acompanhava o comprimento da saia, lenço na cabeça e muitas ainda punham o lenço de cambraia e capote

A sua pesca era diversificada pois as suas redes e barcos possuíam peixes de diferentes espécies, sendo no entanto muito abundante a sardinha. Durante longos anos, conservaram uma característica especial de um antigo tipo de pescadores setubalenses. "Enchiam" o rio com as suas lanchas, canoas, galeões e buques.
Os pescadores, pessoas supersticiosas, que contavam lendas de bruxedos, de almas de outro mundo e também mouras encantadas. Entoavam os seus cantares pelo mar fora; lançavam as redes e recolhiam-nas, com um movimento, uma maneira muito própria, com algumas toadas. Quando descansavam, faziam trovas na viola.


"Toada da Beira-Mar"


"ai, ai, ai
o meu amor foi-se embora
lá vai com a maré cheia
já lá vai pl'a barra fora

ai, ai,ai
o meu amor anda o´ mar
quem tem amor mareante
não tem homem pr'a casar

ai, ai, ai
o meu amor foi-se embora
lá vai com a maré cheia
já lá vai pl'a barra fora"


O descarregador do peixe usava calças de ganga até aos joelhos, corda com nó corredio para as segurar, casaco de ganga com algibeiras, camisa de quadrados desabotoada, lenço vermelho na cabeça, copa de chapéu de feltro por cima do lenço, grande chapéu de lona redondo, de abas largas e altas, pintado de qualquer cor, com desenhos de peixes e barcos. Um pormenor interessante é o terem por cima do chapéu uma rodilha onde equilibram a canastra de peixe. Uma particularidade também interessante é o facto de todo o peixe que cai da canastra para dentro da aba do chapéu, visto o corpo balançar, ser pertença do descarregador.

O Círio da Arrábida é uma festividade de carácter religioso, realizada por pescadores do bairro de Troino em honra de Nossa Senhora da Arrábida.


Poema de Paula Martins intitulado Bairro Troino:

Bairro Troino, Bairro Troino
Bairro Troino tradição
Fonte nova, Palhavã
Vivem no teu coração


Tens o Largo da Palmeira
E a Fonte da Xaroca
Nas Tabernas os Pescadores
Chegam cansados da Doca


Ai Bairro Troino
Gente de Fé e Devoção
Nossa Senhora da Saúde
E Anunciada no Coração


Bairro Troino, Bairro Troino
Bairro Troino sem idade
Da doçaria o Segredo
Da Bolacha Piedade


Foi a Rua da Brasileira
Entre todas a escolhida
P’ra ver nascer Luísa Todi
Que deu nome á Avenida


Ai Bairro Troino
Gente de Fé e Devoção
Nossa Senhora da Saúde
E Anunciada no Coração


Ai Bairro Troino
A Procissão vai a passar

É noite de S. Marçal
Cheiro de Alecrim no Ar



Um comentário:

Lewis disse...

Este post em particular toca-me muito, uma vez que, fui nascido e criado neste bairro durante 30 anos.
E graças ao meu sotaque Sadino é inconfundível a minha origem!!!

Um bêm haja parra o mê Bairre Trroine!